PROVOCAÇÃO!
- Alexandra Mettrau
- 1 de set. de 2022
- 2 min de leitura

A tela branca, vazia. Poderia ser a folha em branco, mas hoje em dia é bem comum eu escrever direto no computador. Sento com o teclado sob minhas mãos e o monitor à minha frente e ela me olha. Branca, ansiosa. Às vezes a expectativa é tão grande que me angustia e me envergonha, fico sem saber o que dizer, ou melhor: o que escrever. Quase posso escutá-la me desafiando convidativa: - Vamos! O que você vai escrever hoje? Quais palavras afagarão minha superfície? Que temas avivarão minha luz?
- Quase pode me escutar? Você pensa que não está me escutando? Pensa que é sua imaginação? O que acha que eu faço enquanto você está longe? Eu espero. Sonhando com a eterna promessa do momento em que você virá e eu estarei novamente viva. E sim, quando você chega, eu te desafio. Te convido e te desafio a me revigorar aquecendo meu brilho morto. Quantas eternidades passam a cada ausência tua! E quantas vidas eu posso inspirar com o cálido alento de teu espírito! Anda, o que fazes aí lerda, hesitante? Meu alvo anseio te constrange e angustia, disseste. Deveria animar-te! Sim, sei que te anima, pois, quando te aventuras corajosamente a romper o enfadonho gelo de minha fixidez, posso sentir a luz viva que levarei de ti aos teus leitores! E posso imaginar as belas pontes que construirei entre vocês.
- Acaso pensas que tens o direito de emudecer ante mim? Não, não tens! Tanto mal é feito de meu uso, tanta dor se propaga através de mim! O que levarei à humanidade se não tiveres coragem de me profanar com a beleza de tuas palavras e pensamentos? Nem sempre parecerá belo, mas sempre será verdade. Crês que porque há outros que escrevem, talvez até melhor que ti, com verdade e beleza, és dispensável? Não caias em minha ilusão, iludir: isso é o que sei fazer de melhor! Aceita meu desafio! Rasga minha brancura, atravessa meu resplendor, mancha minha lucidez com as imagens de teus pensamentos, de tuas memórias, de teus inventos. Cria! Dignifica-me!
- Cada linha, frase, parágrafo que imprimes em meu vazio me faz digna. Digna de ti. Digna de quem, como tu, quer fazer de mim um instrumento de conexão, ao invés de destruição. Defloras minha virginal brancura não como o ladrão violador de quem espalharei o sangue e a violência de minha desonra, mas como o doce amante de quem levarei o encanto e o amor. Muitos como tu são necessários para limpar as máculas dos meus corruptores. Não te esquives de teu poder: recria-me! A cada novo escrito teu em meu luminoso vazio, recria-me! Permitas que eu exista sempre de novo e nova ao te lerem em mim, ao se inspirarem em ti, através de mim. Toma posse de meu teclado e torna-me bela, colorida em imagens e sentimentos. Escreve!
Foto de Florian Klauer no Unsplash Banco de Imagens
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