TAPETE ENCANTADO
- Alexandra Mettrau
- 25 de fev. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de mar. de 2022
- Xandra, quero te mostrar uma coisa, vem comigo. Me chamou minha prima, um pouco mais velha que eu, um dia na fazenda.
Prima mais velha é sempre referência para quem, como eu, é primogênita. Ainda mais porque a família dela é como se fosse minha segunda família, pois, com eles eu ficava sempre que minha mãe precisava de ajuda. A avó dela, que era irmã da minha, foi a avó materna que eu conheci. A casa dela, foi uma das lembranças mais antigas, morávamos no mesmo prédio e eu e as primas vivíamos juntas. A fazenda do avô dela era meu refúgio de férias, sempre com eles, durante toda infância e adolescência. A irmã dela, era praticamente minha irmã gêmea, pois nasceu 3 dias antes de mim, estávamos sempre juntas e todos nos confundiam, a não ser pela cor dos cabelos: os meus eram castanhos e os dela, loiros.
Essa prima-irmã referência, um dia, durante minha adolescência, quando estávamos passando férias na fazenda, me chamou. - Vem, quero te mostrar uma coisa.
Fui. Se ela queria me mostrar algo, devia ser muito legal.
Descemos até o curral e fomos subindo no morro em frente, por trás da casa de D. Maria. Quando chegamos no meio dele, que não era muito alto, mas de onde dava para ver a estrada e os morros do outro lado da via, nos sentamos. - Olha! Ela me disse. - Você já viu coisa mais linda?
Olhei para a frente e foi um deslumbramento! Um gigantesco tapete verde amarelado se movia na campina mais adiante. Ou um mar ondeante. Ou um milharal ao vento. Fiquei extasiada por alguns minutos e nunca mais esqueci.
Algumas vezes depois tentei ter essa visão novamente. Nunca o vento esteve de novo tão especial. Jamais consegui escolher o momento certo de maturação do campo de cultivo. Mas a lembrança daquele dia permanece, indelével, preenchida da profunda gratidão por essa prima me ter aberto os olhos. Tenho a vaga sensação de que ela me levou lá porque eu estava triste, mas, se foi isso, a tristeza não pôde resistir e foi embora diante do tapete encantado.
IMAGEM:
Vincent van Gogh - Wheatfield with Crows

Parabéns, Xanda!
Que especial! Essas vivências da natureza na infância e adolescência são muito fortes né!? Não nos abandonam.. são cores, cheiros, sensações corporais únicas, que resgatamos de dentro de nós e que fora não se repetem! O bom, o belo e o verdadeiro da vida, dignos de todo ser humano, que as novas gerações possam ter também ...